Gotas de Liturgia - Índice

Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser




















































Graças a Deus - Gotas de Liturgia

Graças a Deus - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser



A resposta ao envio no fim da missa é Graças a Deus! Não, graças a Deus que a Missa terminou, mas Graças a Deus porque pudemos viver a Missa, porque pudemos dar graças a Deus por Cristo; graças a Deus porque pudemos renovar a aliança com Deus; graças a Deus porque pudemos receber seu Filho em alimento para prosseguirmos na caminhada rumo à casa do Pai.

Toda a Missa foi uma ação de graças, um louvor, um agradecimento e um reconhecimento pelos benefícios recebidos, particularmente pela bênção por excelência, Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. E agora, no fim da celebração, dizemos mais uma vez Graças a Deus! Vamos desfazer esta assembleia eucarística, mas prolongaremos em nossa vida a ação de graças vivida na Missa. Vamos dar graças a Deus, transformando a nossa vida numa ação de graças a Deus e ao próximo. Como? Vivendo a nossa vocação e missão de batizados, cada qual no seu estado de vida, exercendo sua profissão.

De fato, existe um movimento da Missa para a vida e da vida para a Missa. Nossa resposta ao Senhor que nos deu tudo, até seu próprio Filho, não pode restringir-se ao tempo da Celebração eucarística. Deve ser uma resposta concreta, através de nossa vida diária. Trata-se de viver o novo mandamento. Na Eucaristia o cristão realizou sua vocação última de rei, sacerdote e profeta, vivendo o Mistério da fé, oferecendo-se com Cristo ao Pai, elevando tudo a Deus na ação de graças, dando testemunho da Morte e Ressurreição de Cristo. Ele parte, então, com a missão de viver esta sua vocação no serviço fraterno. De cada Celebração eucarística o cristão leva uma realidade, o Cristo. Ele o leva ao próximo como Caminho, Verdade e Vida, como luz do mundo e sal da terra. De cada Celebração eucarística o cristão leva uma mensagem de justiça e de paz. O homem eucarístico não será, pois, a pessoa dos braços cruzados, já de posse do paraíso, mas o agente do progresso integral do ser humano, uma pessoa engajada na sua missão de sacerdote, profeta e rei da criação.

Assim, a vida não será apenas uma ressonância da Celebração eucarística, tornando-se ela também uma ação de graças, uma glorificação do Pai, um agradecimento, uma profissão de fé, um exercício de sua vocação de sacerdote, rei e profeta. A vida diária, o seu engajamento humano torna-se uma ação de graças para Deus e para o próximo e todo o criado, uma preparação para a seguinte Celebração eucarística.

Para o cristão não poderá haver duas Eucaristias iguais. De uma para a outra a pessoa cresceu, abraçou novas realidades, encontra-se diante de Deus de modo diverso, de modo novo. Está diante do Pai com Cristo, no Espírito Santo com aquela parcela do mundo que ele conquistou, ou melhor, que ele conseguiu servir. Ele está diante do Pai e com o Pai com aqueles que ele conseguiu abraçar no amor, levando a eles o Cristo.

Os dons do pão e do vinho, que pela Ação de graças se transformam, são símbolo daquilo que o homem conquistou por Cristo, procurando, a exemplo dele, a vontade do Pai em tudo. Para isso, é preciso que o homem saiba oferecer um banquete. Mais ainda, é preciso transforma-se em banquete, a exemplo de Cristo. É preciso que ele se transforme em pão e vinho para os seus irmãos; que se dê em alimento e bebida a serviço da vida do próximo, tornando-se uma bênção a exemplo de Cristo. Assim, a nossa vida cristã corresponderá sempre mais àquilo que celebramos para que a nossa Eucaristia seja cada vez mais verdadeira. Desta forma, podemos dizer que a Eucaristia é lava-pés, que a Eucaristia é serviço fraterno. Trata-se de celebrar e de viver a Eucaristia.



Despedida da Missa - Gotas de Liturgia

Despedida da Missa - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser


A despedida da Missa que pode ser chamada também de envio, em latim soa assim: Ite, missa est. A resposta é: Deo gratias. Traduzindo literalmente temos: Ide, a missa terminou. A tradução brasileira procurou encontrar sua fórmula: Ide em paz e o Senhor vos acompanhe. Graças a Deus! É o sacerdote celebrante quem envia ou o diácono, quanto presente. Por isso, enviando, eles não se incluem: Ide, e não, Vamos.

Quem é abençoado é enviado a abençoar, a ser bênção para o próximo, a ser Corpo dado e Sangue derramado, a exemplo de Jesus Cristo.

Importa realçar a riqueza da despedida. Despede-se o povo “para que cada qual retorne às suas boas obras, louvando e bendizendo a Deus”. No fim de cada Missa realiza-se um envio. Os cristãos são novamente enviados em missão. A missão de levar a paz, de levar o Senhor ao próximo, em seus trabalhos, em toda a sua vida.

A própria fórmula latina Ite, missa est, parece traduzir esta missão. Até hoje não se conseguiu descobrir bem o significado do termo missa, que deu o nome a toda a Celebração eucarística. Parece, contudo, poder significar as duas coisas: despedida e envio. Ide, a Missa que está sendo encerrada, inclui uma missão; ide, a vós é confiada uma missão. A missão de transformar a vossa vida numa ação de graças a Deus: Deo gratias. A missão de fazer de vossa vida toda um louvor, um agradecimento, um reconhecimento a Deus, com as vossas boas obras. Ide, vós não fizestes da Missa apenas uma ação de graças a Deus, mas deveis ser na vida uma ação de graças; deveis fazer de toda a vossa vida uma ação de graças, viver em ação de graças.

Compreende-se, então, que este momento não é uma mera despedida apressada, mas novo envio para realizar a missão de cristão no mundo, de construir a paz, de impregnar a sociedade, a família e todas as ações com o Senhor. Tornar o Senhor presente no mundo como Ele se tornou sacramentalmente presente na assembleia eucarística e na Comunhão.

Sem negar a beleza e a riqueza da fórmula atual Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe, creio que será útil recuperar a compreensão do termo missa, pelo qual é denominada toda a celebração.

Missa, conforme o grande estudioso da Liturgia, André Jungmann, vem de missio ou demissio, que quer dizer missão ou demissão, ou seja, despedida. Mas, a missão era sempre acompanhada de uma bênção. Jesus ao subir aos céus, antes de enviar os discípulos ao mundo inteiro, abençoou-os. Ora, a bênção por excelência é a presença de Jesus Cristo na assembleia celebrante, na sua Palavra, no sacramento do seu Corpo e Sangue. Assim, terminadas as bênçãos da consagração e da comunhão, os cristãos são enviados ao mundo, sendo também este envio-despedida envolto com uma bênção. Aos poucos, a bênção do envio começou a significar todas as bênçãos da celebração, de tal maneira que a palavra missa começou a significar também bênção. Ite, missa est, então, pode significar também: Ide, recebestes uma bênção e uma missão a cumprir. Em nome de Cristo vos envio abençoados, para que sejais bênção para o mundo. Fostes abençoados para serdes enviados novamente.


Vemos, então, que missa no sentido de bênção acaba sendo sinônimo de eucaristia, que, literalmente, significa boa graça. Em cada Celebração eucarística os cristãos são abençoados por Deus ao lhes dar seu próprio Filho; e na bênção final são reenviados ao mundo, tornando-se fonte de bênção. Compreendida assim, a palavra missa readquire todo o seu significado.

Rito de encerramento - Gotas de Liturgia

Rito de encerramento - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser


Toda celebração litúrgica possui um rito de abertura ou ritos iniciais e um rito de encerramento. Os Ritos de encerramento da Missa têm o caráter de conclusão, de despedida e de envio. Comecemos a analisar os Ritos de Encerramento.

A Instrução Geral do Missal Romano apresenta os elementos dos Ritos de Encerramento desta forma:

“Aos ritos de encerramento pertencem: a) breves comunicações, se forem necessárias; b) saudação e bênção do sacerdote, que em certos dias e ocasiões é enriquecida e expressa pela oração sobre o povo, ou por outra fórmula mais solene; c) despedida do povo pelo diácono ou pelo sacerdote, para que cada qual retorne às suas boas obras, louvando e bendizendo a Deus; d) o beijo ao altar pelo sacerdote e o diácono e, em seguida, a inclinação profunda ao altar pelo sacerdote, o diácono e os outros ministros” (IGMR, n. 90). Temos fundamentalmente a saudação, a bênção e a despedida ou envio. Quem é abençoado é também chamado e enviado a abençoar.

Comunicações necessárias:

Hoje queremos abordar um elemento, o menos importante, dos Ritos de encerramento, ou seja, Comunicações necessárias.

Antes dos ritos finais propriamente ditos, pode haver breves comunicações, se forem necessárias. Não são chamadas avisos e não deveriam constituir um verdadeiro “Jornal Nacional”. Os ritos de encerramento deveriam brotar naturalmente do clima do rito da Comunhão. Toda a celebração vai convergindo para a comunhão, para o silêncio, resultado da plenitude, da saciedade. Por isso, nada de avisos ou comunicações logo após a Comunhão, antes da Oração depois da Comunhão. Nada de ruídos dispersivos. Hoje, no Brasil, com aprovação da CNBB e da Sé Apostólica, em vez do canto final, que não existe na estrutura da Missa, pode-se entoar ainda um canto devocional, eventualmente, em honra de Nossa Senhora. Ele é facultativo. Neste espaço mais livre entre a Oração depois da Comunhão e os Ritos de encerramento, há lugar ainda para alguma breve mensagem final.

A sensação de plenitude, de saciedade, gerada por toda a celebração, especialmente, pela Sagrada Comunhão, não deve ser desfeita. A celebração deve fluir harmoniosamente para o seu fim. Até a dispersão transmitirá um clima de interioridade, de conversa moderada, pois todos, como irmãos e irmãs acolheram em si o Senhor Jesus, plena vida e amor total.

Na descrição dos Ritos finais na Instrução Geral se diz: “Terminada a oração depois da Comunhão, façam-se, se necessário, breves comunicações ao povo” (n. 166).

Portanto, “se necessário”. Deve-se evitar que sejam numerosas e enfadonhas. Não é hora de instruir o povo, nem de promover campanhas, nem de passar todo o planejamento das diversas pastorais da paróquia, ou de apresentar todo um planejamento de festas da Comunidade. Para isso, deve-se lançar mão de outros meios, como boletins, jornaizinhos da Comunidade, cartazes, rádio e televisão.

A plenitude, a saciedade exige reverência e profundo respeito, pois neste momento todos estão na dinâmica do repouso em Deus, do compromisso, do retirar-se “para retornar às suas boas obras, louvando e bendizendo a Deus”. Os fiéis respondem com fé ao envio de despedida Ide em paz e o Senhor vos acompanhe, com o Graças a Deus”, vamos fazer da vida uma ação de graças.


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Digo “bênção final”, pois, toda a Missa constitui uma grande bênção, no fundo, a maior de todas as bênçãos, o próprio Bem, Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Dos Ritos finais da Missa faz parte “a saudação e bênção do sacerdote que, em certos dias e ocasiões, é enriquecida e expressa pela oração sobre o povo ou por outra fórmula mais solene” (IGMR, n. 90b).

Antes da reforma promovida pelo Concílio, a bênção era dada depois do Ide em paz. A ordem atual é mais lógica. Saudação, bênção e despedida constituem um todo, cujos elementos não devem ser separados.

A bênção faz parte do encerramento de uma celebração. E quem abençoa é o sacerdote, como mediador do grande benfeitor, Jesus Cristo. Em toda a celebração, o sacerdote agiu em nome de Cristo e agora é também em nome da Santíssima Trindade que ele abençoa. Assim como ele abriu a celebração em nome da Santíssima Trindade, agora ele a encerra em nome da Santíssima Trindade. Nas bênçãos, o sacerdote age como mediador. Por isso, não se deve incluir. Ele não invoca a bênção, mas abençoa em nome de Deus Uno e Trino.

Possuímos três tipos de bênçãos para o encerramento da Missa:

A bênção simples: – “Abençoe-vos o Deus todo-poderoso…”

A bênção sobre o povo: Pode ser usada pelo sacerdote no fim da celebração da Missa, de uma Celebração da Palavra de Deus, no fim de uma Hora do Ofício Divino, ou da celebração dos Sacramentos. Antes da oração, o diácono ou o sacerdote pode convidar o povo a inclinar-se para receber a bênção. O sacerdote reza uma oração com as mãos estendidas sobre o povo, a que todos respondem “Amém”, e segue-se a bênção comum. Na última edição típica do Missal Romano são oferecidas “orações sobre o povo” próprias para todos os dias de semana do Tempo da Quaresma.

A bênção solene: Também ela pode ser usada, a critério do sacerdote, no fim da celebração da Missa, nas Celebrações da Palavra de Deus, nas celebrações do Ofício Divino ou dos Sacramentos. É usada, particularmente, nos domingos, solenidades e em Missas rituais. Também nesta forma de bênção o diácono ou o próprio sacerdote convida os fiéis a receberem a bênção. Em seguida, o sacerdote, de mãos estendidas sobre o povo profere a bênção em tríplice invocação e segue-se a bênção comum.

Duas observações finais.

Primeira: Não tem sentido fazer a exposição e a bênção do Santíssimo logo após a Missa. Aliás, isto está proibido no Ritual da Sagrada Comunhão e do Culto do Mistério eucarístico fora da Missa, onde se diz: “Proíbe-se a exposição feita unicamente para dar a bênção” (n. 89).

Segunda: Compreende-se pela tradição da piedade popular, mas não se justifica o costume de muitas pessoas, principalmente mães solícitas pelos filhos, dirigirem-se à sacristia e pedirem ao padre uma “bênção especial” para o filhinho ou a filhinha ou para si mesma. O padre vai ter compreensão e vai abençoar, mas aos poucos os fiéis deveriam superar esta mentalidade, pois a Missa como tal é a bênção por excelência e já temos a bênção de todos no fim da Celebração da Eucaristia.

É importante superar a mentalidade da religião de bênçãos do Catolicismo tradicional. Antes de invocar a bênção somos chamados a bendizer a Deus pelos benefícios, as bênçãos recebidas. Na bênção o ser humano está no centro, na bendição é Deus que está no centro. Neste caso, o próprio pedido de bênção se torna um louvor.


Comunhão - Gotas de Liturgia

Comunhão - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser



Existe uma dinâmica de comunhão ao longo da Missa que vai num crescendo desde a reunião da assembleia até a participação do mesmo Pão e do mesmo Cálice. Comunhão aqui é mais do que mera união, mera relação pessoal ou um estar juntos. A comunhão é uma verdadeira fusão. Tornar-se um em dois ou dois em um, a exemplo do mistério de amor do esposo e da esposa. Isto entre Deus e o ser humano, sem que cada um perca a sua identidade.

A primeira expressão de comunhão é a própria reunião da assembleia. Todos os fiéis convocados pela mesma fé em Jesus Cristo ressuscitado reúnem-se. Esta reunião já expressa o Corpo de Cristo, a Igreja, formada de pedras vivas.

Tendo dispostos os corações, todos ouvem a Palavra de Deus procurando conformar suas vidas com a mesma. Todos rezam para que possam realizar em suas vidas a mensagem ouvida.

Na preparação e apresentação dos dons, a comunhão já se expressa de modo mais eloquente. Assim como a hóstia é formada de muitos grãos de trigo e o vinho composto de muitas uvas, os fiéis reunidos, representados no pão e no vinho formam um só povo de irmãos e irmãs, uma só oferenda a ser apresentada por Cristo ao Pai.

Pela Oração eucarística, Deus aceita as oferendas. Não só as aceita, mas as transforma no Corpo e no Sangue de Cristo. Todos os fiéis, de modo misterioso, mas real, também são transformados em Cristo e oferecidos com Ele e Nele ao Pai. Na hora da Consagração e no memorial explícito da morte e ressurreição de Jesus, todos fazendo sua a Oração eucarística, tornam um com Cristo e em Cristo. As palavras do Pai a seu Filho dirigem-se a todos os que estão em comunhão com Ele: “Este é o meu filho muito amado, esta é minha filha muito amada, nos quais pus a minha complacência”. Isto é participação ativa, eficaz e frutuosa na Liturgia.

Assim reconciliados e feitos irmãos de Cristo e filhos do Pai celeste, todos podem exclamar e dizer “Pai nosso…”. Todos manifestam a paz e a comunhão entre si, irmanados em Jesus Cristo.

E Deus não se deixa vencer em generosidade. Em resposta à oferta de suas vidas aceitas como dom de Deus, o Pai convida seus filhos à mesa divina, onde o próprio Deus se dá em alimento. É o momento sublime em que todos participam do mesmo Corpo e do mesmo Sangue do Senhor, tornando-se um só corpo e um só espírito. Aí se realiza o desejo do ser humano de ser como Deus, de participar de sua divindade. Não na atitude de orgulho, querendo a vida como direito, mas acolhendo-a como dom de Deus, incluindo a sua condição mortal. Jesus se deixa comer e beber como garantia da imortalidade. Antegoza-se a realidade da vida e da felicidade eterna em Deus.

Este processo dinâmico de comunhão com Deus e com os irmãos na Missa deve ser acompanhado da dinâmica do silêncio progressivo até chegar à plenitude na hora da Comunhão. A linguagem eloquente da comunhão e da saciedade é o silêncio. Isso vale, sobretudo, para o canto da Missa. A abertura pode ser mais veemente. Trata-se de busca, de súplica. Como grande doxologia de abertura temos o “Glória” que pode ser vibrante. A Palavra de Deus já se torna mais contemplativa e orante como o Salmo Responsorial. Da apresentação das oferendas em diante, o canto já se torna mais confiante. A partir do Pai nosso, o canto se torna ainda mais contemplativo e sereno. Assim, o Cordeiro de Deus, o canto de Comunhão e o hino de louvor e agradecimento depois da Comunhão deverão ser calmos e contemplativos, deixando espaço também à oração silenciosa após a Comunhão, oração do coração, oração de comunhão, oração do silêncio.



Silêncio na Missa - Gotas de Liturgia

Silêncio na Missa - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser

Na Liturgia, o silêncio é observado não só em momentos determinados. O recolhimento perpassa toda a celebração. Há momentos explícitos de silêncio, mas ele é observado também na escuta da palavra e acompanha certas orações chamadas presidenciais. Além disso, temos muitas ações, gestos, movimentos e posturas do corpo realizados ou acompanhados em silêncio, através do ouvido e da vista. Ouve-se em silêncio, acompanha-se em silêncio pela vista, contemplando o que se realiza ou é realizado pelo sacerdote presidente em nome de toda a assembleia.

Silêncio na escuta da Palavra de Deus – Para ouvir é preciso silenciar, fazer espaço interior para acolher a Palavra na força do Espírito Santo. É Cristo, a Palavra, quem fala quando na igreja se lêem as Escrituras. Quantos ruídos estão atrapalhando a escuta da Palavra de Deus em nossas assembleias! É ruído demais a distrair. É ruído acústico. É o cochicho na Equipe de celebração. É ruído de microfonia dos aparelhos acústicos. É o ventilador ruidoso. É a conversa entre os “assistentes”. Pior ainda é o ruído visual. Pessoas chegando atrasadas, pessoas deslocando-se de um lugar para outro na igreja. É acólito querendo ajustar o microfone quando a leitura já se iniciou. O silêncio é indispensável para uma escuta frutuosa da Palavra de Deus.

Silêncio que acompanha orações do sacerdote – A Liturgia distingue-se por seu caráter dialogal. Nem todos dizem tudo. Há partes da assembleia e outras, próprias do sacerdote. Por isso, os fiéis ouvem as orações em silêncio, fazendo-as suas e dando seu assentimento através do Amém final ou por aclamações. Isso vale, sobretudo, para a Oração eucarística que é sacerdotal por sua natureza. Diz a Instrução: “O sacerdote convida o povo a elevar os corações ao Senhor na oração e ação de graças e o associa à prece que dirige a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo, em nome de toda a comunidade. A oração eucarística exige que todos a ouçam respeitosamente e em silêncio” (cf. n. 79). O mesmo se diga da Oração pela paz que é dita só pelo sacerdote.

Silêncio que acompanha ações, gestos e movimentos – Todo gesto realizado pelo presidente da assembleia é feito em nome de toda a assembléia. São gestos litúrgicos significativos dos mistérios celebrados. Assim todos os fiéis presentes podem e devem transformá-los em verdadeira oração: traçar o sinal da cruz, persignar-se, impor as mãos, lavar as mãos, unir as mãos, elevar as mãos, inclinações de cabeça, genuflexões e assim por diante. Os fiéis acompanham tudo em silêncio, fazendo-os seus, transformando-os em oração.

Quase todos os movimentos são acompanhados em silêncio. Gostaria de realçar a procissão da apresentação das oferendas. O canto que a acompanha é facultativo. Os fiéis que levam as oferendas ao altar estão realizando uma procissão de ofertas em nome do todos os fiéis presentes. Cada um deve encontrar-se nas oferendas, fazendo sua a apresentação das oferendas com tudo o que elas significam. O ideal é que a procissão seja acompanhada pelo olhar, em silêncio. A própria ação de se reunir em assembléia, já parte da celebração, é feita em silêncio.

Silêncio que acompanha posturas corporais da assembléia – Estar de pé, levantar-se, sentar-se e estar assentado, ajoelhar e estar de joelhos, prostrar-se e estar prostrado são ações comemorativas dos mistérios celebrados, expressões orantes, modos de a assembleia comunicar-se com Deus. O corpo todo reza, comunica-se com Deus na fé, na esperança e na caridade. Tudo isso é realizado no silêncio das palavras. Celebremos, pois, de corpo inteiro, comunicamo-nos com Deus, inclusive, através da gestualidade corporal no silêncio das palavras. Tudo é oração.


Hoje em dia muitas celebrações litúrgicas, em vez de levarem ao repouso, conduzem a um verdadeiro cansaço, um perigoso estresse. Uma senhora me dizia, em Goiânia, que na terra onde mora, perto de Belém do Pará, as Missas estão se tornando insuportáveis devido ao estrépito, à barulheira do canto, dos conjuntos musicais, além de comentários intermináveis e avisos que não terminam. Às vezes, ainda consegue levar o marido à Missa, diz ela, mas a certa altura ele diz: “Mulher, não agüento mais, vou embora”. De fato, levanta-se e se retira.

Ora, a sagrada Liturgia não constitui um espetáculo. Toda a assembléia celebrante brinca diante de Deus e em Deus. A Liturgia não é conquista humana. Não é eficaz pela força das palavras como se fosse uma conquista. É obra de Deus, puro dom divino, Deus mesmo a ser acolhido. A Liturgia leva a assembléia ao repouso em Deus e não ao cansaço, ao estresse do esgotamento físico e psíquico.

Na ação litúrgica já participamos do “repouso” prometido por Deus a seu povo (cf. Sl 94). Ela conduz à tranqüilidade, ao descanso, ao sossego da comunhão de vida e do amor com Deus e em Deus. Seu desenrolar aos poucos vai aquietando os corações dos que chegam à assembléia celebrante cheios de tensões causadas pela vida agitada, pelas preocupações do dia a dia. Aos poucos, na escuta da Palavra de Deus, o coração se deixa reconciliar, estabelece-se novamente a harmonia com Deus, com o próximo e com toda a criação. Os participantes acolhem a Palavra e a deixam aninhar-se no seu coração. Todos vão se deixando enlevar pelo ritmo dos diversos ritos, que estabelecem o clima de oração, melhor, que constituem oração, relação efetiva e afetiva com Deus por Cristo e em Cristo Jesus.

Por isso, as nossas celebrações devem voltar a ser mais contemplativas dos mistérios de Cristo que se tornam presentes, onde entrará, sobretudo, a linguagem da escuta atenta, da acolhida, da contemplação, dos ritos em si mesmos, inclusive, do silêncio.

A celebração cristã não pode estar repleta de estímulos externos, de estrépito, de barulho, repleta de ruídos. Evitar-se-ão toda surpresa, toda quebra do ritmo do rito, toda interrupção do fluir da relação orante com Deus através de todas as faculdades e todos os sentidos, embalada pelo ritmo do rito. A palavra, o som, o canto e a música constituem apenas um aspecto da participação ativa. É um desastre quando o som da palavra e da música se torna atordoante e ensurdecedor. Isto não leva ao repouso em Deus, mas a maior tensão, ao estresse. As pessoas deixam a celebração mais tensas do que quando chegaram.

Diria que a participação ativa é antes uma acolhida passiva do dom de Deus, do próprio Deus no coração, deixando-se envolver por Deus, revestir-se de Deus, fazendo sua a glorificação prestada por Jesus Cristo ao Pai. Deus não se agrada com um culto de multiplicação de palavras. Compraz-se com um coração contrito e humilhado.

Toda celebração litúrgica, particularmente a Eucaristia, possui uma dinâmica interna. O início pode ser mais vivo para despertar e motivar a celebração. Aos poucos, porém, a partir da escuta e da contemplação dos mistérios, brota a resposta orante de admiração, de adoração, de louvor, de ação de graças. Comer e beber juntos exige tranqüilidade, sossego, satisfação, plenitude. Assim, toda a assembleia flui para o repouso, a comunhão, a linguagem do coração, a linguagem do esposo e da esposa, para o silêncio profundo da satisfação em Deus. Acontece, então, a reconciliação total, o descanso, o repouso em Deus. O coração e a alma se retemperam em Deus, se fortalecem com o dom de Deus. Assim, reconciliadas, as pessoas podem retornar à luta do dia a dia.



Silêncio na Liturgia Gotas de Liturgia

Silêncio na Liturgia Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser


Depois de expor o sentido e a importância do silêncio na Liturgia em geral, vejamos agora o silêncio na Celebração da Eucaristia. Vamos restringir-nos aos momentos de silêncio explícito.

A Instrução Geral sobre o Missal Romano diz: “Oportunamente, como parte da celebração, deve-se observar o silêncio sagrado. A sua natureza depende do momento em que ocorre em cada celebração. Assim, no ato penitencial e após o convite à oração, cada fiel se recolhe; após uma leitura ou a homilia, meditam brevemente o que ouviram; após a comunhão, enfim, louvam e rezam a Deus no íntimo do coração. Convém que, já antes da própria celebração, conserve-se o silêncio na igreja, na sacristia, na secretaria e mesmo nos lugares mais próximos, para que todos se disponham devota e devidamente para realizarem os sagrados mistérios” (n. 45).

Desta orientação geral decorrem algumas observações quanto ao silêncio. Trata-se de um silêncio sagrado, feito oração, portanto, cheio de Deus. Faz parte da celebração. Pede-se silêncio, mesmo antes do início da celebração. O silêncio é visto como preparação para realizar os sagrados mistérios. O silêncio adquire sentidos diversos, conforme os momentos da celebração.

Acompanhemos, agora, os momentos de silêncio na Missa, parte por parte.

Antes do início da celebração: – Na igreja, na sacristia, na secretaria e nos lugares mais próximos. O espaço da celebração, a igreja, convida ao silêncio, ao recolhimento, ao encontro com o Sagrado. Todos aí se encontram para realizar os sagrados mistérios. Os fiéis podem prepara-se com uma visita ao Santíssimo, com a oração de uma Hora do Oficio Divino ou mesmo o Rosário. A pessoa pode se recolher na recitação de algum salmo ou de outras orações de Manuais, como o “Livro de Orações do Cristão Católico” ou ainda pela meditação. Importa dispor-se para a realização dos mistérios.

Antes do Ato penitencial: – Trata-se de um silêncio de recolhimento, fazendo um exame de consciência e colocando-se como pobre e necessitado diante de Deus.

Antes da Oração do dia ou da Oração depois da Comunhão: – É também um silêncio de recolhimento. Os fiéis são convidados a tomarem consciência de que estão na presença de Deus e a formularem interiormente os seus pedidos (cf. n. 54).

Na Liturgia da Palavra: - A Instrução Geral diz: “A Liturgia da Palavra deve ser celebrada de tal modo que favoreça a meditação; por isso deve ser de todo evitada qualquer pressa que impeça o recolhimento. Integram-na também breves momentos de silêncio, de acordo com a assembleia reunida, pelos quais, sob a ação do Espírito Santo, se acolhe no coração a Palavra de Deus e se prepara a resposta pela oração. Convém que tais momentos de silêncio sejam observados, por exemplo, antes de se iniciar a própria Liturgia da Palavra, após a primeira e a segunda leitura, como também após o término da homilia” (n. 56). Quanta coisa a ser cultivada! O silêncio no início da proclamação da Palavra praticamente ainda não é observado.

Antes e depois da Comunhão: - Sim, também antes. Enquanto o sacerdote se prepara com uma oração em silêncio, os fiéis fazem o mesmo, rezando em silêncio (cf. n. 84). Já o descobrimos? É um verdadeiro jejum pelo qual a gente renuncia a tudo que não é Jesus Cristo, fazendo espaço para o Pão descido do céu. Ocorre entre o Cordeiro e a sua apresentação.

A resposta às Preces: - Após cada invocação, a resposta orante pode ser por breve silêncio.

Depois da Comunhão: - Após a Santa Comunhão recomenda-se um momento de oração silenciosa, oração do coração, oração de comunhão, de adoração, de louvor e agradecimento.